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A ANÁLISE MARXISTA DAS ETAPAS DA LUTA DE CLASSES- N. MORENO

Do livro “O Partido e a Revolução”. Ed. José Luis e Rosa Sundermann, São Paulo, 2008

Para formular nossa política, a primeira coisa a fazer é definir com todo cuidado, a etapa da luta de classes que atravessa o país, o continente, o mundo, um sindicato, uma fabrica ou, inclusive, um colégio ou uma faculdade.
A base para análise e caracterização marxistas é a situação da luta de classes. Isto significa que se trata, antes de mais nada, de uma análise estrutural, que deve responder seguinte pergunta: qual é a relação de forças entre as classes na situação que queremos caracterizar? Sobre essa base se incorporam os elementos superestruturais: a situação dos partidos políticos, dos sindicatos e outros organismos de massa das diferentes tendências existentes no seu interior, etc. A relação de forcas geral entre as classes se expressa no tipo de regime que existe em cada etapa. Uma mudança geral na relação de forças (isto é, na etapa) se transforma, em curto prazo numa mudança de regime.


Dentro destas etapas, há momentos em que uma classe toma a ofensiva e momentos em que é outra classe a que ataca; dentro de uma mesma classe, diferentes setores podem estar na ofensiva em cada momento; setores de uma mesma classe podem às vezes lutar entre Si. Alem disso, existem as superestruturas das diferentes classes e o estado, que tem certa autonomia em relação ao movimento das classes, o que pode provocar situações contraditórias entre a base e a superestrutura (por exemplo, quando o movimento operário se dirige para a revolução e partidos operários se dirigem cada vez mais para a direita). Todos estes ziguezagues que acontecem durante uma etapa podem determinar sub-etapas, que devemos precisar cuidadosamente. Só podemos dizer que começa outra etapa quando estamos diante de uma nova relação de forças geral entre as classes, o que trará uma mudança de regime.
Segundo Trotsky, ha em geral quatro tipos de etapas, que refletem quatro estágios no processo da luta de classes: contra-revolucionária, não-revolucionária, pré-revolucionaria e revolucionária. Os governos refletem de uma maneira não mecânica as características da etapa, e neles se resumem todas as contradições. Existem governos fascistas, bonapartistas, semi-bonapartistas, democrático-burgueses, kerenskistas ou kornilovianos.
Nos países atrasados, segundo Trotsky, pode haver governos bonapartistas sui generis, que, sem deixar de ser burgueses, enfrentam ou resistem a alguma potência imperialista, tendendo a se apoiar no movimento de massas ou operário. Ou, ao contrário, esmagam os trabalhadores para melhor servir ao imperialismo.
A existência de diferentes tipos de governo, inclusive em uma mesma etapa, explica-se pelo fato de que, como toda superestrutura, o governo reflete não somente a relação fundamental exploradores-explorados como todas as outras contradições e combinações de classes ou setores de classes. Continuam sendo, todos eles, governos burgueses, mas alguns se apóiam na classe media das cidades, outros se vêem obrigados a apoiar-se no campesinato ou nos partidos da classe operária; em alguns tem mais peso o aparelho burocrático-militar do estado que em outros etc.
Destas diferentes combinações, surgem diferentes tipos de governo, que refletem situações particulares da luta de classes.
Mas todos estes governos estão determinados pelas características especiais da etapa e pelo regime a que servem. Em uma etapa pré-revolucionária, pode haver um governo democrático burguês ou kerenskista, mas não pode haver um governo fascista; numa etapa contra-revolucionária, pode haver um governo fascista ou bonapartista, mas não pode haver um governo democrático-burguês. Este método, que consiste em definir etapas e regimes pela situação da luta de classes e os governos pela combinação concreta dos setores sociais e superestruturas que expressam, era o método de nossa Internacional nas boas épocas do “arqueotrotskismo”. Nossa política começava pela tentativa séria, tenaz, cuidadosa e cientifica de definir a etapa que atravessávamos e o governo que suportávamos em cada momento. Desde que a maioria predomina na direção de nossa Internacional, porem, este método foi abandonado.
Nossas análises se fazem agora unicamente em base às relações existentes dentro do movimento operário e muito especialmente, quase exclusivamente, na situação da vanguarda. Do resultado de tais análises surge uma política cujo objetivo já não é dirigir corretamente as massas nas situações que devem enfrentar, senão causar impacto na vanguarda. Daí o desprezo pelo método cientifico elaborado pelo trotskismo.
Antes, teríamos discutido meses inteiros se a definição do governo Banzer como “fascista” que faz o companheiro Gonzalez Moscoso era correta ou não. Por que? Porque somente chegando a uma conclusão sobre este ponto, poderíamos decidir sobre a política a seguir. Atualmente, os companheiros da maioria estão de acordo com a política e a estratégia do POR(C) para a Bolívia sem estarem de acordo, aparentemente, na definição do governo, pois Gonzáles diz que é “fascista” e Germain o qualifica de “reacionário”. Isto poderia ser uma casualidade, mas lamentavelmente é a regra.
Os companheiros da maioria diziam que a política do ERP e do PRT (c) era um exemplo (ou seja, a aprovavam com elogios), ainda que o PRT (c) tivesse definido a situação argentina como de “guerra civil” e os companheiros do SU
como pré-revolucionária.

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