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História das Internacionais

Alicia Sagrada direção da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)
Três textos escritos em homenagem aos 70 anos da IV Internacional retirados do site do pstu
A Primeira Internacional: o primeiro passo na batalha pelo partido mundial

A 70 anos de sua fundação, as lutas operárias e dos povos de todo o mundo confirmam a necessidade histórica do programa da Quarta
Internacional Socialista: o segundo passo na batalha pelo partido mundial

Internacional, baseado na defesa da democracia operária, na luta pelo poder proletário e na revolução socialista mundial. Mas a Quarta, enquanto organização, não existe; por isso mesmo a sua reconstrução constitui hoje a grande tarefa colocada aos revolucionários de todo o mundo.

Desde o surgimento do sistema capitalista, a construção de uma Internacional converteu-se em imperiosa necessidade para o movimento operário. No processo de formação dos Estados-nação o capital expandiu o mercado mundial, criando assim uma divisão internacional do trabalho e o intercâmbio mercantil. Esse caráter mundial da economia capitalista é o que internacionaliza a luta de classes. Os ataques mundiais do capital foram impondo a necessidade de uma resposta, também mundial, dos trabalhadores; bem como, mais adiante, a necessidade de construir uma organização capaz de conduzir à destruição do imperialismo. Durante mais de cem anos realizaram-se quatro importantes tentativas nesse sentido. No entanto, hoje, afalta de tal organização mundial trata-se da maior expressão da crise de direção revolucionária da humanidade.

Primeira tentativa:
a construção da Primeira Internacional

No ‘Manifesto Comunista’ Marx e Engels dizem: “O proletariado passa por diferentes estágios de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia se inicia com a sua própria existência (…) com o desenvolvimento industrial, o proletariado não só aumenta em número, mas se concentra em grandes massas, sua força cresce e se faz sentir (...) Os interesses, as condições de vida no interior do proletariado, tornam-se cada vez mais semelhantes (…) Daí em diante, os trabalhadores começam a unificar suas forças contra a burguesia; se aglutinam com o objetivo de conservar o nível de seus salários; fundam associações permanentes com o objetivo de organizar, com antecipação, estas rebeliões ocasionais”.

É nessa fase que se constrói a (Primeira) Associação Internacional dos Trabalhadores. Em 1848 ocorreram revoluções democrático-burguesas – todas elas derrotadas – na França, Alemanha, Áustria, Itália, Polônia, Hungria. De todos esses países chegaram a Londres, Inglaterra, perseguidos políticos, democratas burgueses e proletários revolucionários. A princípio tentaram atuar em associações comuns de emigrados, mas rapidamente começaram a ocorrer as divisões de classe. Enquanto isso, os que tinham ficado em seus países e fora das prisões formavam clubes, associações literárias etc. para manter acesa a chama da revolução e poder recrutar novos elementos.

Fatos internacionais inéditos, tais como a Guerra da Independência na Itália, em 1859, e a explosão da Guerra Civil no EUA, em 1861, começaram a provocar mudanças na situação da classe operária. Na França, os trabalhadores conseguiram o direito ao voto e revogaram-se leis que proibiam as organizações sindicais. Na Inglaterra, os operários tinham conquistado, desde 1825, o direito a se sindicalizar, mas não tinham direito a voto. A Guerra Civil norte-americana e o embargo das exportações de algodão produziram grande miséria entre os operários têxteis ingleses. Isso convulsionou os sindicatos e deu origem ao que se conheceu como o “novo movimento operário”, encabeçado por dirigentes que eram operários qualificados, agrupados em agremiações tais como as de mecânicos, carpinteiros, construtores e sapateiros.

Em 1862 realizou-se a grande Feira Industrial em Londres. Isso possibilitou a visita de delegados franceses, ajudando no contato com operários ingleses e posterior intercâmbio de correspondência. No dia 28 de setembro de 1864, num ato conjunto de operários franceses e ingleses, no Saint. Martin’s Hall, em Londres, fundou-se a Associação Internacional de Trabalhadores (AIT). Posteriormente ela foi chamada Primeira Internacional. Marx fez o seu discurso inaugural e foi encarregado de redigir os estatutos de tal organização.

A Primeira Internacional não foi um partido, teve mais um caráter de frente única operária entre dirigentes políticos, marxistas e anarquistas, e sindicalistas. A partir da AIT dirigiu-se uma grande luta pela reforma dos direitos políticos na Inglaterra. Fez-se uma campanha, em toda a Europa, por uma legislação trabalhista mais progressiva. Impulsionou-se a organização sindical em vários países. Apoiaram-se as greves, que se estenderam de um país a outro após a crise econômica de 1866. Expressou-se solidariedade ativa em guerras civis e nacionais. Como por exemplo, na luta de Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos (1861 -865) contra os escravistas do Sul do país. Mas o que despertou mesmo o ódio de toda a burguesia mundial foi o apoio da AIT à Comuna de Paris.

A primeira revolução proletária:
a Comuna de Paris

A guerra entre a França e a Prússia, em 1870, acabou numa brutal derrota para a França. Os operários parisienses, organizados na Guarda Republicana, resolveram assumir para si a defesa da cidade e tomaram a direção política de Paris. Foi a primeira experiência de assalto violento da classe operária ao poder político bem como de construção de um auto-governo operário apoiado na mobilização revolucionária do proletariado em armas. A Comuna durou apenas 72 dias, mas seus efeitos e ensinamentos foram gigantescos. Anos mais tarde Lênin, no seu livro ‘O Estado e a Revolução’, citando as conclusões de Marx sobre a Comuna, desenvolveu as posições contra o parlamentarismo e em prol da ditadura do proletariado.

Os erros da Comuna serviram para fortalecer ainda mais a concepção marxista da história. Um dos mais conhecidos é o fato de que, diante da dramática escassez de recursos econômicos para sustentar a luta revolucionária, os comuneiros não expropriaram o Banco da França abarrotado de ouro. Isso porque os setores que encabeçavam a luta não tinham para si o objetivo de expropriar a propriedade privada. Um outro tem a ver com o papel da violência revolucionária. Segundo Engels, o fato de a Comuna de Paris não ter aplicado suficientemente essa violência foi uma das principais causas pelas quais terminou sendo massacrada pelas forças da burguesia francesa. Repressão que foi ajudada por seus antigos inimigos de guerra: as tropas prussianas.

As batalhas contra
o sectarismo e
o oportunismo

Marx e seus seguidores tiveram que lutar contra Lasalle a respeito de duas questões fundamentais. Por um lado, por sua tática oportunista em relação aos aliados. Lasalle apoiou a política de Otto von Bismarck, primeiro ministro da Prússia, a favor dos latifundiários – e na contracorrente dos burgueses –, ao invés de defender uma política independente, do proletariado. Por outro, por seu sectarismo para com os sindicatos, já que se negava a entrar em sindicatos que não tivessem todo seu programa e a sua direção. No entanto, a mais importante luta político-organizativa foi a que travaram contra as idéias anarquistas de Proudhon e Bakunin em relação ao Estado e à propriedade.

Os marxistas defendiam a luta contra o Estado burguês e a imposição do poder estatal da classe operária através da ditadura do proletariado como transição necessária antes de abolir toda a autoridade de Estado. Os anarquistas estavam na contracorrente de toda autoridade e qualquer forma de Estado, independentemente mesmo de sua natureza de classe.

Os marxistas defendiam a propriedade estatal dos meios fundamentais de produção social. Os anarquistas propunham que a propriedade dos meios fundamentais de produção social se distribuísse entre os que os trabalhassem, fossem camponeses ou operários fabris (cooperativas, autogestão etc). Isto é, não estavam a favor da extinção da propriedade privada, mas da recriação de uma grande quantidade de novos e pequenos proprietários.

Destas diferenças surge a questão da centralização ou não da Internacional, o que originou uma violenta polêmica sobre diferentes concepções de Internacional. Os estatutos, redigidos por Marx, propunham que com a AIT se buscava obter um ponto central de cooperação entre os operários dos diferentes países para a libertação plena da classe operária. Para isso, se elegeria um Conselho Geral formado por representantes de todos esses países.

O desenvolvimento da luta de classes foi exigindo um avanço cada vez maior em sua centralização. E a este respeito ocorreu a grande batalha. Marx concebia a Internacional como um movimento que devia atuar sob uma direção central unificada, ainda que as seções nacionais tivessem liberdade para formular sua própria política. Bakunin defendia que todos os movimentos deviam gozar de absoluta liberdade de ação, sem receber nenhuma instrução: de nenhum núcleo central.

Deslealdade dentro
da Primeira Internacional

A Conferência de 1869 definiu-se a favor das posições de Marx: aprovou a ampliação de atribuições do Conselho Geral, incluindo a possibilidade de expulsar seções que atuassem na contracorrente do programa e do espírito da Internacional. Isso levou a que ocorressem na Internacional problemas de deslealdade. Bakunin formou uma organização secreta que buscou conquistar a direção política por meio de táticas conspirativas.

Em sua correspondência, Marx diz que na Primeira Internacional se manteve “uma luta contínua do Conselho Geral contra as seitas e os experimentos de aficcionados, os quais tentavam se manter dentro da Internacional e contra o movimento real da classe operária”. As condições históricas, desfavoráveis, impediram que essas seitas pudessem ser derrotadas. Após a queda da Comuna de Paris, um golpe muito duro, essas forças destrutivas tiveram condições favoráveis para se desenvolver. Isso levou à decadência, desintegração e, finalmente, à dissolução da Primeira Internacional em 1878.

Mas a luta não foi em vão. A AIT foi a prova viva de que a unidade internacional dos trabalhadores era tão possível quanto necessária. E isso foi conseguido apesar de sua organização primitiva, a qual tinha a ver com o próprio grau de organização do proletariado à época. As lições da Primeira Internacional foram extremamente valiosas para a longa batalha, em curso, pela construção de uma direção revolucionária mundial.

A I Internacional, com Karl Marx surgiu com o início da organização dos operários. Já a II Internacional foi produto de uma época histórica: a reformista, onde a classe operária com suas lutas conseguiu grandes conquistas e organizou grandes sindicatos e grandes partidos operários.

Depois da derrota da Comuna de Paris e do grande avanço da economia capitalista (nas décadas de 1870 e1880) os governos se fortalecem, conseguindo desmoralizar e influir ideologicamente em importantes setores dos trabalhadores, especialmente na Inglaterra e na França, que haviam sido a vanguarda do processo revolucionário anterior.

Contudo, esse desenvolvimento industrial forneceu as condições materiais para lutar pelas reivindicações mínimas, centralmente na Alemanha. Depois de sua vitória na guerra franco-prussiana de 1871, a Alemanha unificada entrou em uma grande expansão industrial, parecida com a que Inglaterra tinha vivido vinte anos antes. Isso favoreceu a luta e a conquista de importantes reivindicações salariais, na legislação social e nas condições de trabalho, etc. Esta situação especial da Alemanha provocou não só um grande fortalecimento dos sindicatos, mas também do partido social-democrata, nome usado então pelos que reivindicavam as teses do marxismo. Nas eleições para a Câmara de Deputados, as votações do partido social-democrata saltaram de 102 mil votos, em 1871, para 493 mil, em 1877. Sete anos depois, o partido obteve 550 mil votos e em 1890 triplicou essa cifra.

Mas as organizações operárias da França e da Inglaterra estavam paralisadas e o sentimento era de desânimo.

A fundação da II Internacional
Ao final da década de 1880, a situação européia começa a mudar. A Inglaterra perde o monopólio do mercado mundial e isso provoca desemprego, miséria, grandes lutas e o surgimento de um novo sindicalismo, de operários não qualificados. Por outro lado, começa um gradual fortalecimento dos movimentos socialistas. Na França, Jules Guesde, destacado dirigente da Comuna de Paris, funda em 1879, junto a Paul Lafargue, o Partido Operário Francês, cujo programa foi escrito com a ajuda de Marx. Na Inglaterra se unem várias sociedades socialistas e marxistas. Organizaram-se partidos operários e socialistas em países como Dinamarca, Suécia, Bélgica, Áustria, Suíça e Itália. E começam a atuar os primeiros grupos marxistas da Finlândia e da Rússia.

Em 1889, no centenário da Revolução Francesa, o governo francês promove uma exposição mundial em Paris.

Ao mesmo tempo, a capital da França recebe 69 congressos internacionais. Um deles, convocado pelos socialistas alemães e franceses, foi o que fundou a Internacional Socialista, a II Internacional.

A Segunda Internacional, diferentemente da Primeira, não foi uma frente única entre organizações operárias, mas uma federação de partidos social-democratas. Marx já havia morrido e quem cumpriu um papel muito importante foi Friedrich Engels. Nos dez anos seguintes, a II Internacional foi aumentando sua influência e prestígio.

Reforma ou revolução
Os partidos social-democratas não eram partidos centralizados. No partido alemão, o mais importante da Internacional, existiam três alas: a esquerda (Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Clara Zetkin), a direita (Bernstein, Vollmar) e o centro (Bebel e Kautsky), que detinha a direção.

Os oportunistas, apoiando-se no fato de as condições objetivas ainda não estarem maduras para a revolução, buscaram fazer das lutas por reformas a essência do movimento socialista. Rosa Luxemburgo respondia: “entre a reforma e a revolução social existe, para a social-democracia, um vínculo indissolúvel. A luta pelas reformas é o meio; a revolução social, é o fim.”

Esta luta entre oportunistas e marxistas não ficou apenas no plano teórico e se entendeu ao conjunto da Internacional. Na França, a luta chegou ao máximo quando Alexander Millerand, membro do partido Socialista Independente, aceitou em 1889 o cargo de ministro da Indústria. Era a primeira vez que um dirigente socialista entrava num governo burguês. Esse fato provocou a divisão do partido.

Nesta polêmica, a esquerda e o centro atuaram juntos e derrotaram politicamente os revisionistas dirigidos por Bernstein e Vollmar. No congresso da social-democracia alemã, realizado em Dresden, em 1903, foi aprovada uma resolução que afirmava: “O congresso condena terminantemente os esforços dos revisionistas por mudar a linha tática que se aprovou com êxito no passado e que se deriva da idéia da luta de classes, substituindo a política de conquistar o poder derrotando nossos inimigos por uma política de concessões a ordem atual (...) O congresso declara: (...) que o Partido Social-democrata não pode lutar por uma cota de poder dentro do governo da sociedade burguesa”.

Em 1904, em Amsterdan na Holanda, o Congresso da II Internacional também adota esta resolução. Esse congresso, com 444 delegados, mostrou que a II Internacional se converteu em um grande movimento mundial. O peso da Segunda aumentou com a Revolução Russa de 1905, quando a jovem classe operária desse país, dirigida majoritariamente pela social-democracia, mostrou ao mundo seu potencial revolucionário.

O oportunismo se impõe
A revolução de 1905 moveu correntes revolucionárias em toda a Europa e atuou contra os oportunistas. Contudo, quem triunfou foi a contra-revolução. Leon Trotsky, sobre as conseqüências da vitória dos revisionistas na social-democracia alemã disse: “os esforços da ala esquerda do partido de levá-lo a uma política mais ativa foram infrutíferos. O centro dirigente se balançou mais e mais até a direita, isolando a esquerda. O conservadorismo, curado dos golpes recebidos em 1905, se recuperou totalmente.”

Entre 1906 e 1914, a Segunda começou a se transformar, e pouco a pouco se foi impondo a perspectiva reformista. O programa mínimo, formado apenas por reivindicações econômicas e imediatas, foi se convertendo no verdadeiro programa do partido. O programa máximo, baseado na luta revolucionária, passou a ser usado apenas nos discursos dos atos de Primeiro de Maio.

As bases materiais do revisionismo oportunista
Tudo estava ligado ao surgimento e fortalecimento do imperialismo. Os grandes lucros extraídos da exploração dos países coloniais e semi-coloniais permitiram que as grandes potências fizessem algumas pequenas concessões a seus trabalhadores, melhorando o seu nível de vida. Assim surgiu a aristocracia operária, que foi a base social de fortes burocracias políticas e sindicais.

Na medida em que crescia seu bem estar, os dirigentes políticos e sindicais se isolavam dos sofrimentos, misérias e aspirações das massas arruinadas e empobrecidas dos povos coloniais. Bernstein, a máxima expressão do setor oportunista, argumentava que necessariamente existiam duas classes de povos: os dominadores e os dominados. Alguns povos, dizia ele, eram como crianças incapazes de se desenvolverem.

A Primeira Guerra Mundial e a morte da II Internacional

Em outubro de 1912, Montenegro declarou guerra contra a Turquia. O perigo de um conflito mundial estava claro. A Internacional marcou um congresso extraordinário na Basiléia, para 24 e 25 de novembro. Foi aprovado por unanimidade um manifesto que chamava a enfrentar a guerra imperialista.

Em julho de 1914 o império austro-húngaro deu um ultimato à Servia. Os partidos da II Internacional puseram em prática o primeiro mandamento do Manifesto de Basiléia: “Se a guerra ameaça estalar (....) vamos desenvolver todos os esforços com o objetivo de prevenir por todos os meios que se considerem efetivos”. Em 29 de julho quando as tropas austríacas entravam em Belgrado, foram organizadas imensas manifestações contra a guerra, na Alemanha, Áustria, Itália, França e Bélgica.

Os dirigentes social-democratas confiavam que essas ações obrigariam seus governos a recuar. Mas não puderam impedir a guerra entre os países imperialistas. A Segunda Internacional e seus partidos teriam que colocar em prática o segundo mandamento do Manifesto da Basiléia: “utilizar com todas as forças a crise econômica causada pela guerra, para sublevar as massas e precipitar assim a queda do domínio de classe capitalista”. Era a prova de fogo. Havia que enfrentar o próprio imperialismo.

A II Internacional, porém, não passou na prova. A maioria dos dirigentes de todos os partidos terminou votando a favor dos créditos de guerra. Somente dois partidos não votaram a favor de seus próprios governos, os russos e os sérvios. Na Alemanha, o único deputado social-democrata que votou contra os créditos de guerra e que chamou os operários e soldados a voltarem as armas contra seus próprios governos foi Karl Liebknecht. O restante da social-democracia, segundo Rosa Luxemburgo, era “um cadáver mal cheiroso”.

Assim morre a II Internacional. Era necessário recomeçar a batalha. Sobre isso Trotsky em “A Guerra e a Internacional” escreve: “A II Internacional não havia vivido em vão. Havia logrado fazer um gigantesco trabalho educativo. Nunca antes na história existiu algo semelhante. Haviam educado e aglutinado ao seu redor as classes oprimidas. O proletariado agora não tem que começar desde o princípio.”

Recomeçando a batalha pelo internacionalismo
Em setembro de 1915 se realizou, em Zimmerwald, na Suíça, uma conferência internacional dos setores que estavam contra a política assumida frente a guerra.

Participaram 44 delegados, entre eles Lênin e Trotsky, que descreve a reunião da seguinte maneira: “Nos acomodamos como podemos em quatro carros e tomamos o caminho da serra. A população ficava olhando com gestos de curiosidade essa estranha caravana. A nós tampouco deixava de fazer graça que, cinqüenta anos depois da fundação da I Internacional, todos os internacionalistas do mundo puderam caber em apenas quatro carros. Contudo, naquela brincadeira não havia o menor ceticismo. O fio histórico se rompe com bastante freqüência. Quando ocorre tal coisa, não há nada o que fazer além de reatá-lo de novo”.

Terceira Internacional: a maior conquista organizativa do proletariado mundial


“Nós não nos entregamos ao desespero por conta do fato de que a guerra rompera a Internacional. A época revolucionária criará novas formas de organização – surgidas dos recursos inesgotáveis do socialismo proletário –, novas formas à altura da grandeza dos novos desafios. Nós nos dedicaremos a este trabalho imediatamente, sob o rugido das metralhadoras, a derrubada das catedrais e o brado patriótico dos lacaios do capital.”

Assim escrevia Trotsky em 1915. Em não mais do que dois anos, a vida lhe deu a razão. Novas formas de organização, adequadas aos novos desafios colocados, surgiram da revolução. Como dizia Lenin, já não se tratava de fazer propaganda do socialismo, tratava-se agora de tomar o poder para começar a construí-lo de fato.

Para esse novo desafio era necessária uma nova ferramenta: um partido cujos militantes assumissem a revolução como profissão, que atuasse com estrita disciplina para poder enfrentar poderosos inimigos (o governo, o imperialismo, a burguesia, as burocracias) e que, ao mesmo tempo, desenvolvesse a mais ampla democracia interna para operar sua política.

Essa nova ferramenta se concretizou: o partido bolchevique impulsionado por Lênin, baseado no centralismo democrático, que garantiu que os operários tomassem o poder, com a revolução russa, em outubro de 1917.

No calor dessa grande revolução – e adotando a estrutura partidária bolchevique – nasceu a Terceira Internacional, ou Internacional Comunista (IC), que foi, com o partido bolchevique, a maior conquista organizativa do movimento operário em sua história.

A fundação da Terceira Internacional
Quando estourou a revolução de 1917, os elementos mais ativos da esquerda foram à Rússia. Assim, o centro da luta por uma nova Internacional se transferiu para esse país.

Em 24 de janeiro de 1919, o comitê central do Partido Comunista Russo (nome que assumiram os bolcheviques), as direções estrangeiras (que estavam na Rússia) dos partidos comunistas polonês, húngaro, alemão, austríaco e letão, e os comitês centrais dos partidos comunistas finlandês, da Federação Socialista Balcânica e do Partido Socialista Operário Norte-Americano, lançaram o seguinte chamado: “Os partidos e organizações abaixo-assinados consideramos como uma necessidade imperiosa a reunião do primeiro congresso da nova Internacional revolucionária. Durante a guerra e a revolução, não somente se manifesta a completa bancarrota dos velhos partidos socialistas e social-democratas e, com estes, de toda a Segunda Internacional, senão, também, a incapacidade dos elementos centristas da velha social-democracia de ação revolucionária. Ao mesmo tempo, distinguem-se os contornos de uma verdadeira Internacional Revolucionária”.

O desafio proposto nesse primeiro congresso é a “criação de um organismo de combate, encarregado de coordenar e de dirigir o movimento da Internacional Comunista e de realizar a subordinação dos interesses dos movimentos de diferentes países aos interesses gerais da revolução internacional”.

O primeiro congresso, realizado em plena guerra civil entre 2 e 6 de março de 1919, é aberto com um discurso de Lênin que se inicia assim: “Por mandato do comitê central do Partido Comunista Russo, declaro aberto o primeiro congresso da Internacional. Antes de mais nada, peço-lhes que nos levantemos para honrar a memória dos melhores representantes da Terceira Internacional: Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo”. Esses dois grandes revolucionários acabavam de ser assassinados por ordens do governo alemão, em mãos do social-democrata Ebert.

No ano seguinte, aderiram à Internacional Comunista o Partido Socialista Italiano, o Partido Operário Norueguês e o Partido Socialista de Esquerda Húngaro.

A luta contra o oportunismo
O segundo congresso reuniu-se em Petrogrado em 17 de junho de 1920. A discussão principal centrou-se no caráter dos partidos.

Com o avanço da Internacional, apareceram novos problemas. Os partidos que vinham aderindo não estavam completamente formados. Não existia ainda clareza sobre o que era um partido, o papel dos comunistas nos sindicatos, a atitude frente ao parlamentarismo e outras questões. Ao mesmo tempo, uma série de dirigentes oportunistas, que não tinham nada a ver com a revolução, introduziam-se nesses partidos para aproveitar os efeitos do triunfo de outubro.

Diante de tal realidade, a direção da Internacional vê a necessidade de “separar o joio do trigo”, para avançar na construção de um verdadeiro partido revolucionário mundial. Com esse objetivo votam-se as ditas “21 condições”.

Nessas 21 condições exigia-se: a imprensa deveria estar submetida ao comitê central do partido. A propaganda e a agitação dos partidos deveriam ter um caráter comunista. Os reformistas deveriam ser descartados de todos os postos importantes. Realizar uma luta enérgica contra reformistas e centristas. Desenvolver trabalho no campo, com os proletários rurais e camponeses pobres. Denúncia do próprio imperialismo e apoio aos movimentos de libertação nacional. Trabalho nos sindicatos. O partido deveria funcionar em base ao centralismo democrático e tomar o nome de partido comunista (seção da Internacional Comunista).

Todos os partidos da Internacional ou que quisessem aderir deveriam realizar congressos extraordinários para discutir as 21 condições e se deveria excluir do partido todos que as recusassem, em até quatro meses após o congresso.

O congresso terminou em 7 de agosto. Nesse mês, o partido social-democrata tchecoslovaco dividia-se: uma maioria esmagadora adotou as 21 condições. Em outubro, a maioria do partido social-democrata independente da Alemanha aderiu à Internacional Comunista, fundindo-se à Liga Spartakus (o partido de Rosa Luxemburgo, que já pertencia à Terceira Internacional) e constituindo um grande partido comunista unificado. Em dezembro, a maioria do partido socialista francês adere à Terceira. Em janeiro de 1921, divide-se o partido socialista italiano e a maioria recusa as 21 condições.

A luta contra o sectarismo
O terceiro congresso, que se reuniu em junho de 1921, teve que resolver os novos problemas do crescimento. A Internacional já tinha mais de 50 seções e alguns partidos de massas nos principais países europeus. Isso provocava questões de tática e de organização. Mas os problemas tinham a ver com a mudança da relação de forças.

A partir do balanço crítico dos fatos de março de 1921 na Alemanha e da política ultra-esquerdista do partido alemão, abre-se uma discussão sobre a nova situação da luta de classes em nível mundial e sobre as novas táticas que os partidos deveriam implementar.

A burguesia tinha se mostrado mais capaz de resistir do que se poderia acreditar. Sua principal força repousava nos dirigentes da social-democracia, que durante a guerra traíram o proletariado e que após a guerra se mostraram como os melhores defensores do capital em crise.

Isso permitiu às burguesias recuperar-se e lançar uma nova ofensiva contra os trabalhadores. Em 1920, surgiu uma crise no Japão e na América que se estendeu a todas as nações industrializadas. Milhões de operários foram jogados no olho da rua. As lutas defensivas foram imensas, mas derrotadas.

Essa nova realidade exigia duas importantes alterações táticas, que tiveram que enfrentar posições sectárias e ultra-esquerdistas que vinham se desenvolvendo em vários partidos da Internacional.

A primeira tinha a ver com a necessidade de dar grande importância às reivindicações concretas das massas. “Toda objeção contra levantar reivindicações parciais desse gênero, toda acusação de reformismo sob pretexto das lutas parciais, partem desta mesma incapacidade em compreender as condições vivas da ação revolucionária, a qual se manifestou já na oposição de certos grupos comunistas à participação nos sindicatos e à utilização do parlamento. Não se trata de pregar sempre ao proletariado os objetivos finais, senão de fazê-lo avançar em uma luta concreta que só possa conduzi-lo à luta por tais objetivos finais.”

A segunda tinha a ver com a necessidade de unificar a classe operária para enfrentar o ataque da burguesia e daí então surgiria o primeiro esboço-proposta da Frente Única Operária, que consistia no chamado às direções traidoras dos sindicatos e partidos operários a formar uma frente unitária para enfrentar os ataques do capital. Esta tática tinha um duplo objetivo: conseguir a unidade para lutar e desmascarar as direções traidoras frente a sua base para disputar-lhes a direção.

No quatro congresso, reunido em novembro de 1922, continuou a batalha contra os setores ultra-esquerdistas que se negavam a apresentar uma política para as direções traidoras do movimento operário. Foi aprovada a tática da Frente Única Operária propondo-a como a tática central para enfrentar a nova ofensiva do capital expressada pelo desenvolvimento do fascismo.

O desafio que a Terceira não pôde enfrentar
Em quatro anos, a IC realizou quatro congressos. Suas resoluções apresentaram análises e ofereceram respostas principistas sobre a democracia burguesa, o parlamentarismo, o trabalho nos sindicatos, a frente única operária, a organização partidária, a questão negra, o trabalho em mulheres, o governo operário.

Assim, nesses difíceis quatro anos, foram-se forjando as bases essenciais de um programa revolucionário mundial. O que faltava era sistematizá-lo. O quarto congresso votou essa tarefa, mas não pôde enfrentar tal desafio. Pouco tempo depois começaria o processo de burocratização que terminou com a degeneração do Estado soviético, do partido bolchevique e de toda a Terceira Internacional.

Os 70 anos da Quarta Internacional

No dia 3 de setembro de 1938, em um congresso que durou apenas um dia, sob a terrível perseguição stalinista, foi fundada a Quarta Internacional. Assim terminava uma longa batalha contra a degeneração burocrática que Trotsky começou em 1923 e que Lenin havia iniciado um ano antes.

O enfrentamento do terror stalinista e a defesa da URSS
A partir de 1933, quando a Terceira Internacional apóia a política desenvolvida pelo Partido Comunista Alemão que levou ao triunfo de Hitler e à pior derrota do proletariado alemão, Trotsky chega à conclusão de que não há tarefa mais importante e urgente que fundar a Quarta Internacional.

Essa era a única forma de preservar os princípios leninistas e estar preparados para o próximo levante revolucionário que, muito provavelmente, viria depois da guerra mundial que se aproximava.

A tarefa não foi fácil. Por um lado ocorria o avanço avassalador do nazismo. Por outro, o stalinismo, que havia negado a frente única operária para enfrentar Hitler, agora lançava a política de frente popular, ou seja, frente com a burguesia “democrática” como forma de enfrentar o fascismo. A isso se somava o ataque contra-revolucionário contra tudo o que restava da velha direção bolchevique.

Com os terríveis processos de Moscou, sob acusações falsas, foi aniquilada fisicamente a maior parte da direção bolchevique que participou da tomada do poder e que se enfrentou com Stalin, seja pela esquerda como pela direita. Assim foram caindo Zinoviev, Kamenev, Bukharin... Ao mesmo tempo em que os seguidores de Trotsky (entre eles seus filhos) morriam nos campos da concentração da URSS ou sob a ação dos carrascos que os perseguiam pela Europa.

A barbárie stalinista gerou uma corrente dentro do movimento pela Quarta Internacional que começou a propor que não havia motivos para defender a URSS, já que não se diferenciava do imperialismo. Em meio ao ataque stalinista, Trotsky desenvolveu uma incansável batalha contra essa corrente antidefensista, propondo a defesa incondicional da URSS diante de qualquer ataque imperialista. Dizendo ao mesmo tempo que a única forma de defender as conquistas de outubro era realizando uma revolução política que tirasse a burocracia do poder.

A batalha contra os céticos
Por outro lado, assim como durante dez anos Trotsky recebeu as críticas dos que opinavam que não se justificava a luta para reformar o Partido Comunista Soviético e a Terceira Internacional, agora a maioria de seus seguidores não estava convencida de que se deveria fundar a Quarta.

Os argumentos centrais eram muito parecidos aos que hoje muitas correntes usam para justificar não construir a Internacional: “que ainda não havia chegado o momento”, “que iriam construir algo muito débil”, “que não se haviam dado os grandes acontecimentos da luta de classes que justificam sua construção”... Em uma grande quantidade de cartas, várias vezes Trotsky responde a esses setores. No Programa de Transição volta a fazê-lo:

“Os céticos perguntam: mas chegou o momento de criar uma nova internacional? É impossível, dizem, criar uma internacional ‘artificialmente’, ‘só grandes acontecimentos podem fazê-la surgir’, etc. (...) A Quarta Internacional já surgiu de grandes acontecimentos: as maiores derrotas do proletariado na história”.
“A causa dessas derrotas está na degeneração e na traição da antiga direção. A luta de classes não admite interrupção. Para a revolução a Terceira Internacional, depois da Segunda, morreu. Viva a Quarta Internacional!”

“Mas chegou o momento de proclamar sua criação? Os céticos não se calam. A Quarta Internacional, respondemos, não necessita ‘proclamar-se’, ela existe e luta. É débil? Sim, suas fileiras não são numerosas porque ainda é jovem. Por agora há principalmente quadros. Mas esses quadros são garantia do futuro”.

“Fora desses quadros, não há no planeta uma só corrente revolucionária digna desse nome. Se nossa Internacional é débil numericamente, é forte por sua doutrina, seu programa, sua tradição, o temperamento incomparável de seus quadros”.

A fundação da Quarta
Finalmente, em 3 de setembro de 1938 é fundada a Quarta Internacional em Paris. Pelos problemas de segurança provocados pelo terror stalinista, Trotsky não participa. Dias antes havia sido seqüestrado é assassinado pela GPU um de seus secretários, Rudolf Klement, encarregado de organizar o congresso.

Pelo mesmo motivo o congresso dura apenas um dia e vota poucos documentos: o Programa de Transição, um esboço de estatuto que se informa oralmente (o texto original havia desaparecido com Klement), um manifesto contra a guerra, uma resolução sobre a juventude e cartas de saudações a Trotsky, aos camaradas assassinados e aos combatentes da Guerra Civil Espanhola.

Participaram delegados da União Soviética, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Polônia, Itália, Grécia, Holanda, Bélgica e Estados Unidos, mais um delegado representando a América Latina (o brasileiro Mario Pedrosa).

As organizações de todos esses países eram pequenas e como dizia Trotsky: “Nossa organização é incomparavelmente mais difícil que a de qualquer outra organização em qualquer época (...) Não há nada no mundo que seja mais convincente que o êxito, e nada mais repulsivo, sobretudo para as amplas massas, que a derrota (...) É preciso juntar a degeneração da Terceira, de um lado, e de outro a terrível derrota da Oposição de Esquerda na Rússia, seguida de sua exterminação (...) A composição social de um movimento revolucionário que começa a se construir não tem predominância operária (...) Devemos criticar a composição social de nossa organização e modificá-la, mas devemos também compreender que ela não caiu do céu, que ela é determinada, pelo contrário, tanto pela situação objetiva como pelo caráter de nossa missão histórica nesse período”.

Nahuel Moreno dizia que a Quarta havia nascido com uma cabeça de gigante e um corpo de anão. Stalin era consciente do poder dessa cabeça de gigante, que sintetizava a experiência das três revoluções russas. Por isso, não descansou até conseguir tirar a “cabeça” da Quarta. E conseguiu. Em 20 de agosto de 1940, um de seus enviados, Ramón Mercader, acabou com a vida de Trotsky, provocando uma ferida de terríveis conseqüências na recém-fundada Quarta Internacional.

A dispersão da Quarta e a necessidade de sua reconstrução
A perda dessa cabeça de gigante deixou a Quarta em terríveis condições para enfrentar a Segunda Guerra Mundial, o ataque combinado do nazismo e do stalinismo e as grandes mudanças do pós-guerra. A debilidade e inexperiência de seus dirigentes os levaram a cair em desvios sectários em um primeiro momento, para depois capitular aos aparatos contra-revolucionários fortalecidos com o resultado da guerra, provocando um processo de dispersão que mantém até hoje.

Isso leva à contradição de que hoje, quando as massas do Leste Europeu deram o golpe de misericórdia no aparato central do stalinismo, a Quarta como organização não existe, apesar de seu programa ter sido confirmado pela realidade.

Não há tarefa mais importante e mais urgente que sua reconstrução porque, como disse Trotsky, “sem condução, sem direção internacional, o proletariado não poderá se liberar da atual opressão”.

Devemos encarar essa reconstrução não com a metodologia de autoproclamação ou através da realização de atos e conferências abertas, como fazem diferentes seitas que se reivindicam trotskistas. Devemos fazê-la com o método aplicado por Trotsky em sua construção: sem nenhuma autoproclamação e chamando os revolucionários a tomar de forma conjunta a luta revolucionária e a discussão programática.

Encarando essa discussão programática com paciência, sem ultimatismos, mas sem nenhuma diplomacia, de frente para as massas e sem esquecer outras normas da política revolucionária: “Não se assustar sem necessidade e não assustar os demais sem causa, não fazer acusações falsas, não buscar capitulação onde não existe, não substituir a discussão marxista pelas disputas sem princípios”.

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