V. I. Lênin
Todos esses exemplos mostram como a fábrica acentua a exploração dos operários e a generaliza, transforma-a em toda uma "ordem de coisas". O operário, queira ou não, tem que medir forças, agora não com um patrão isolado, sua vontade e suas afrontas, mas sim com a arbitrariedade e as perseguições de toda a classe patronal. O operário vê que quem o oprime não é um capitalista qualquer, mas toda a classe capitalista, porque em todas as empresas vigora o mesmo sistema de exploração; um capitalista isolado nem sequer pode renunciar a essa ordem de coisas: se, por exemplo, lhe ocorresse reduzir a jornada de trabalho, suas mercadorias ficariam mais caras que as de seu vizinho, que as de outro patrão que obrigasse o operário a trabalhar mais horas pelo mesmo salário. Para conseguir uma melhoria em sua situação, o operário tem que enfrentar agora toda uma organização social voltada para a exploração do trabalho pelo capital.
O operário já não tem diante de si a injustiça de um funcionário qualquer, e sim a injustiça do próprio poder do Estado, que toma para si a defesa de toda a classe capitalista e promulga leis obrigatórias para todos em benefício dessa classe. Portanto, a luta dos operários industriais contra os patrões transforma-se, inevitavelmente, numa luta contra toda a classe capitalista, contra toda a estrutura social, baseada na exploração do trabalho pelo capital. Por isso, a luta dos operários adquire um significado social, converte-se numa luta de todos os trabalhadores contra todas as classes que vivem às custas do trabalho alheio. Por isso, a luta dos operários inaugura uma nova época da história da Rússia e é a aurora da emancipação dos operários.
Pois bem, em que se baseia a dominação da classe capitalista sobre toda a massa trabalhadora? Em possuírem os capitalistas, como propriedade privada, todas as fábricas, minas, máquinas e instrumentos de trabalho; em terem nas mãos enormes quantidades de terra (de toda a terra da Rússia européia, mais de um terço pertence aos latifundiários, cujo número não chega a meio milhão). Os operários, não dispondo de instrumentos de trabalho e de materiais, têm que vender sua força de trabalho aos capitalistas, que lhes pagam apenas o necessário para seu sustento, apropriando-se de todo o excedente produzido pelo trabalho; pagam, portanto, somente uma parte do tempo de trabalho investido, ficando com a parte restante. Todo o aumento das riquezas proveniente do trabalho conjunto da massa de operários ou dos aperfeiçoamentos introduzidos na produção vai para a classe capitalista, enquanto os operários, trabalhando de geração em geração, continuam sendo proletários sem posses. Por isso, só existe um processo para pôr fim à exploração do trabalho pelo capital, qual seja: suprimir a propriedade privada sobre os instrumentos de trabalho, colocar nas mãos de toda a sociedade todas as fábricas e minas, assim como todas as grandes propriedades rurais, etc., e organizar a produção comum socialista, dirigida pelos próprios operários. Os produtos do trabalho comum reverterão assim em benefício dos próprios trabalhadores, e o que sobrar além do necessário para atender a seu sustento servirá para satisfazer as necessidades dos próprios operários, para desenvolver plenamente todas as suas capacidades e para usufruir em pé de igualdade de todas as conquistas da ciência e da arte. No programa assinala-se, por isso mesmo, que só assim pode terminar a luta da classe operária contra os capitalistas. Mas, para isso, é necessário que o poder político, isto é, o poder da direção do Estado, passe das mãos do governo que está sob a influência dos capitalistas e dos latifundiários, ou das mãos do governo formado diretamente por representantes eleitos dos capitalistas, para as mãos da classe operária.
Este é o objetivo final da luta da classe operária, esta é a premissa de sua plena emancipação.
* Extrato do texto Sobre o Programa, escrito em 1895/1896.
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